Aprovado em Medicina na UFSM, professor de violão do interior da Bahia faz vaquinha para custear mudança

Aprovado em Medicina na UFSM, professor de violão do interior da Bahia faz vaquinha para custear mudança

Foto: Arquivo pessoal

O desejo de cursar Medicina em uma universidade federal é o sonho de muitos brasileiros que, por vezes, precisam conciliar a rotina de estudo e o trabalho para alcançar a tão esperada aprovação. Para o baiano Lucas Campos Santos Alves, 25 anos, não foi diferente. Após seis anos de muita dedicação, o estudante foi aprovado em Medicina na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), localizada a mais de 2.575 km de distância da sua cidade natal, Guanambi. Agora, para conseguir viabilizar a mudança de Estado, ele está realizando uma vaquinha online para arrecadar recursos para a viagem e se manter nos primeiros anos da faculdade. Ansioso para a nova fase, ele conta que está surpreso com a repercussão da iniciativa e, principalmente, com o acolhimento dos santa-marienses:

— Cerca de 10 minutos depois que fiz a postagem, o meu Instagram travou. Pensei que era problema no aplicativo, mas era pela quantidade de pessoas me marcando e mandando mensagens dizendo que estavam felizes com a minha história. Eu vivi várias coisas, dificuldades, mas em nenhum momento eu achei que alguém olharia isso de forma grandiosa. As pessoas falaram ‘aqui em Santa Maria a gente tá é divulgando para todo mundo’, eu pensei 'meu Deus, como assim?' Começaram a me tratar como filho, ofereceram até quarto, cama — conta.

Lucas foi aprovado na chamada oral da UFSM, realizada no fim de fevereiro. Sem o valor necessário para comprar as passagens, o dinheiro foi arrecadado por meio de amigos e familiares. Foram praticamente três dias de viagem em um ônibus que saiu de Guanambi, interior da Bahia, até Santa Maria. Ansioso com o resultado, ele relembra que mal pôde acreditar quando teve o nome anunciado em voz alta no Centro de Convenções

— Pra mim, foi um choque, na hora que ele falou ‘Lucas Campos’, eu fiquei travado 30 segundos. Aí, um rapaz tocou no meu braço e disse ‘não é você?’— relembrou, rindo.

Lucas após ser aprovado na chamada oral.Foto: Arquivo pessoal


Trajetória

Lucas já trabalhou como repositor, motoboy e, hoje, atua como professor de violão. Filho de uma mãe balconista e um pai operário de chão de fábrica, ele relembra os obstáculos enfrentados durante seis anos de estudo:

— No momento em que meu nome foi chamado, passou um filme na cabeça. Uma época, a gente não tinha como pagar internet, muitas vezes eu me deslocava até casa de um amigo para poder usar a dele, também já tive que pedir o acesso do wi-fi do meu vizinho. Quando eu liguei para os meus pais, foi aquela felicidade gigantesca.

Durante os anos de estudo, ele foi aprovado mais de uma vez no curso de Odontologia e também em outros concursos. Ele conta que muitas pessoas o incentivavam a deixar o sonho de lado, e explica o motivo de tanta insistência: 

— Eu sentia que não conseguiria acordar de manhã e saber que eu não estaria entregando um Lucas 100%. Eu passei em muitos cursos de Odontologia, mas sentia que não seria feliz de entrar em um consultório e atender aquela pessoa. Então, eu falei que ia continuar o resto da minha vida dando aulas, trabalhando em supermercado, não importa, mas eu não entraria em outra graduação.

Para quem está em busca de uma vaga de Medicina na Federal, ele deixa um recado:

— Acredito muito forte que o sonho que a gente tem no coração foi Deus que colocou, e não há sonhos que ele coloque no nosso coração que a gente não seja capaz de alcançar. E vendo toda a minha trajetória, eu acredito que foi uma formação de caráter, sabe? Ele tava me preparando para algo grande. Então, e assim, se tá “demorando”, é porque esse tempo de preparação é necessário, porque o que espera essa pessoa é muito grande, e tudo vai valer a pena.

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O baiano quer conhecer o xis e o chimarrão

Lucas conta que está ansioso para desbravar o campus e também a cultura gaúcha. Nos poucos dias que esteve em Santa Maria, já ouviu falar do xis e do chimarrão, dois grandes ícones da culinária do Sul:

— Muita gente me falou sobre esse lanche e o chimarrão, eu quero muito provar. "Tô" muito ansioso e aberto para poder viver todas as experiências. Acho que passei tanto tempo querendo isso que eu quero saborear cada coisa, da mais simples até a mais extraordinária. Eu quero aproveitar ao máximo — brinca.

Agora, ele aproveita cada momento junto dos pais, Carlos Roberto Alves, 48 anos, Janaina Campos Santos Alves, 50 anos, a noiva Carine Macedo Monteiro Da Silva, 22 anos, e a avó, Ana Amélia de Jesus, 84 anos, que sempre relembra o neto do sonho de cursar Enfermagem quando nova. Lucas foi aprovado no segundo semestre da UFSM, ou seja, as aulas se iniciam apenas em agosto. Até lá, ele vive a expectativa do sonho e espera arrecadar o valor necessário para embarcar rumo ao Coração do Rio Grande.

Lucas junto dos pais e a noiva (à dir), e a avó (à esq).

Ajude o Lucas

Em um dia de vaquinha, Lucas arrecadou mais de R$ 9 mil. O valor mínimo para doações é de R$ 25, e deve ser feito através do Pix: 77999934112


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